Em todos os municípios as ações de educação em saúde e de mobilização da população, visando a eliminação de focos do mosquito Aedes aegypti não podem ficar centradas apenas no período sazonal de outubro a maio. Nesse período ocorre o aumento da incidência de casos de dengue, chikungunya e zika, mas o cenário das arboviroses tem mudado tanto com a notificação de casos durante todo o ano, bem como as manifestações clínicas que, no caso das pessoas idosas, já não apresentam febre.   

Esses foram alguns dos alertas que a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) repassou na quinta-feira, 7/11, a gestores e profissionais de saúde de 86 municípios do Norte de Minas, durante a realização do primeiro dia do Seminário Macrorregional de Arboviroses. Em dois dias de evento, que prossegue nesta sexta-feira, 8/11, mais de 700 gestores, coordenadores de vigilância epidemiológica e de saúde, bem como médicos e enfermeiros participam do Seminário. O evento também reúne dirigentes e equipes técnicas da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros e das Gerências Regionais de Saúde (GRS) de Januária e Pirapora. 

“No Norte de Minas o enfrentamento das arboviroses constitui um verdadeiro desafio, tanto para os municípios quanto para a Secretaria de Estado da Saúde”, ressaltou Dhyeime Thauanne Pereira Marques, superintendente regional de saúde de Montes Claros. “Neste ano enfrentamos um cenário bastante difícil e, para termos uma situação menos complicada no período sazonal que começou em outubro deste ano, e prossegue até maio de 2025, o Seminário Macrorregional de Arboviroses tem como foco preparar os municípios para a intensificação das ações de combate ao Aedes aegypti”, disse a superintendente. “Precisamos estar preparados para atendermos as demandas de saúde da população”, completou.

Ainda na abertura do Seminário, a superintendente da SRS Montes Claros lembrou que a SES-MG tem disponibilizado recursos financeiros aos municípios para a utilização em diversas ações de enfrentamento às arboviroses. “As ações, entre elas a realização de mutirões, mobilização da população, e uso de drones para a identificação de focos do Aedes aegypti em locais de difícil acesso, são complementares e, se bem trabalhadas, possibilitam aos gestores municipais o alcance de resultados que viabilizem a redução de doenças transmitidas pelo mosquito, bem como a ocorrência de óbitos”, completou Dhyeime Marques.

Foto: Pedro Ricardo

Por sua vez, a superintendente estadual de vigilância epidemiológica, Aline Lara Cavalcante Oliva, assinalou que “as ações de enfrentamento às arboviroses não são um problema exclusivo dos profissionais de saúde. É uma questão que envolve os mais diversos segmentos das administrações municipais, entre elas as secretarias de educação, limpeza urbana e obras, além da sociedade civil organizada”. 

Por esse motivo, observou Aline Cavalcante, para que as ações de enfrentamento às arboviroses alcancem resultados positivos os municípios precisam articular o trabalho tanto com os diversos setores da administração municipal, além de buscar o envolvimento dos diversos segmentos da sociedade.

 

Investimentos

Aliado à realização de seminários de arboviroses em 16 macrorregiões de Saúde do Estado, Aline Cavalcante lembrou que neste ano a SES-MG já definiu investimentos em várias ações de enfrentamento às arboviroses. Os valores estão distribuídos da seguinte forma: mais de R$ 120,3 milhões para o enfrentamento de doenças caracterizadas como emergências em saúde pública, com ênfase nas arboviroses e nas doenças transmissíveis agudas por vírus respiratórios;  R$ 30,5 milhões disponibilizados a municípios e consórcios intermunicipais de saúde para a utilização de drones para o controle de focos do Aedes aegypti; e mais de R$ 28 milhões para a descentralização da aplicação espacial de adulticida a ultra baixo volume veicular para o controle do Aedes aegypti.

 

Novas estratégias

Dulce Pimenta, secretária municipal de saúde de Montes Claros e presidente regional do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems), ressaltou que há necessidade dos municípios mudarem o comportamento e as estratégias de enfrentamento às arboviroses. “O trabalho precisa ser realizado nos 365 dias do ano. Isso porque, a título de exemplo, 90% dos focos do Aedes aegypti estão dentro de imóveis e, para que o trabalho de eliminação tenha êxito, é preciso que as campanhas de mobilização da população ocorram durante todo o ano”. 

Segundo a secretária, com a disponibilidade de recursos, de novas tecnologias, e de ações estratégicas que podem ser adotadas pelos municípios na eliminação de focos de proliferação do Aedes aegypti, “não faz sentido que pessoas continuem morrendo por causa de dengue, chikungunya e zika, levando em conta que há 40 anos o problema existe e ainda não foi superado. Para que haja reversão dessa situação precisamos mudar o comportamento e as estratégias”, finalizou.

Ao proferir palestra sobre as ações preparatórias com a atualização dos planos municipais de contingência e comitês municipais, a coordenadora de Vigilância das Arboviroses e Controle Vetorial da SES-MG, Danielle Capistrano,observou que além da notificação de todos os casos de arboviroses os municípios precisam atualizar os planos de contingência com o envolvimento de profissionais dos mais diversos segmentos da administração, visando a definição de ações com objetivos e diretrizes consistentes. “É de fundamental importância que as características sociais dos municípios sejam levadas em conta para que os investimentos nas ações de enfrentamento das arboviroses sejam direcionados para as necessidades reais e, com isso, o controle vetorial do Aedes aegypti obtenha resultados. Nesse contexto, é importante o trabalho em equipe da administração municipal, alinhado com as ações de mobilização da população”, concluiu a coordenadora.

Foto: Pedro Ricardo

 

Programação

Na quinta-feira, o Seminário Macrorregional de Arboviroses contou com a realização de palestras e debates sobre controle vetorial do Aedes aegypti; vigilância dos casos e óbitos; e a organização da assistência à saúde por meio da vigilância laboratorial. As ações de comunicação e mobilização e o trabalho da gestão na resposta às emergências encerraram o primeiro dia do Seminário.

Na sexta-feira, 8/11, a programação aborda o diagnóstico das arboviroses e a vigilância laboratorial; os impactos da organização dos processos de trabalho na Atenção Primária à Saúde; organização dos serviços de saúde; o cenário epidemiológico da dengue, chikungunya, zika, febre amarela e febre oropouche.

Ainda no segundo dia do Seminário, médicos e enfermeiros vão participar de exposições sobre o manejo clínico e atualizações sobre a dengue, bem como da febre de Oropouche.

 

Mutirão - Minas Unida contra o Mosquito

Sábado, 9/11, numa iniciativa proposta pela Secretaria de Estado da Saúde, municípios de todas as regiões do estado vão realizar mutirões, com o recolhimento de materiais inservíveis. É o Dia D do movimento Minas Unida Contra o Mosquito. O objetivo é evitar que, com a ocorrência e alternância de períodos de chuva e estiagem, a proliferação de focos do mosquito Aedes aegypti saia do controle e, com isso, aumente a transmissão de doenças.

 

Cenário

Agna Soares da Silva Menezes, coordenadora de vigilância em saúde da SRS Montes Claros observa que neste ano o Norte de Minas contabiliza a notificação de 78.420 casos prováveis de dengue, dos quais 55.827 já foram confirmados por meio da realização de exames laboratoriais. Do total de casos confirmados, 325 foram de dengue grave com sinais de alarme e 99% dos municípios do Norte de Minas apresentaram taxa de incidência de dengue acima de 500 casos por 100 mil habitantes. 

Também neste ano, o Norte de Minas contabiliza a ocorrência de 36 óbitos causados por dengue em 24 municípios. Outros 25 óbitos estão em investigação. 

Com relação à febre chikungunya, neste ano o Norte de Minas soma 3.067 casos prováveis da doença e 1.592 confirmados, sem ocorrência de óbitos.

Por Pedro Ricardo